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A jornalista investigativa mexicana Anabel Hernandez discursa no painel Novo Crime Organizado na GIJC23.
A jornalista investigativa mexicana Anabel Hernandez discursa no painel Novo Crime Organizado na GIJC23.

A jornalista investigativa mexicana Anabel Hernandez discursa no painel Novo Crime Organizado na GIJC23. Imagem: Rocky Kistner para GIJN

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O novo crime organizado: como chegar até os criminosos

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Investigar o crime organizado é como explorar a natureza humana, argumentou Paul Radu, cofundador do Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), ao moderar um painel sobre o assunto na 13ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo (#GIJC23), na Suécia.

Radu, especialista em crimes na Eurásia e esquemas financeiros transfronteiriços, explicou que o crime organizado é muito mais do que uma atividade criminosa – é um estilo de vida. “Apesar de acumularem vasta riqueza, estes criminosos continuam a comprar bens roubados”.

O painel foi composto por um grupo de jornalistas veteranos que partilharam as suas ideias sobre como o crime organizado evoluiu ao longo da última década e o que os jornalistas de investigação podem fazer para acompanhar. Anabel Hernandez expôs ligações entre cartéis de drogas e funcionários do governo no México; Bertil Lintner é autor e especialista em crime organizado no “Triângulo Dourado” da Ásia; Giulio Rubino, diretor da IRPI Media, e a repórter sênior, Cecilia Anesi, vem cobrindo extensivamente os grupos mafiosos italianos.

Rubino discutiu a mudança geracional que ocorre no cenário do crime organizado na Itália. Os chefes da máfia tradicional, explicou ele, antes perspicazes e influentes, estão envelhecendo ou foram capturados. Este vácuo permitiu a ascensão de uma geração mais jovem – embora ele observe que muitos deles “não são a faca mais afiada na gaveta”. O controle da máfia italiana sobre certos portos no norte da Europa passou para grupos da Albânia e de Marrocos, sinalizando uma dinâmica de mudança, acrescentou.

painel Novo Crime Organizado na GIJC23

O painel Novo Crime Organizado na GIJC23. Imagem: Rocky Kistner para GIJN

Rubino também observou que as organizações criminosas estão a adotar uma abordagem mais orientada para os negócios. Eles estão investindo os lucros ilícitos do tráfico de drogas em imóveis, causando gentrificação e aumentando os aluguéis. Para expor isto, o IRPI fez parceria com uma think tank da Universidade de Milão para desenvolver um algoritmo para detectar aumentos repentinos de capital em empresas, especialmente aquelas que usam dinheiro, como restaurantes. Ao identificar empresas ligadas à máfia, conseguiram mostrar aos residentes locais como estavam sendo afetados pela gentrificação liderada pelo crime organizado. Como resultado, os residentes se mostraram mais dispostos a cooperar com eles.

Hernandez, uma renomada jornalista mexicana que passou décadas lutando contra os cartéis mais notórios do mundo, enfatizou que investigar o crime organizado exige olhar além dos próprios grupos criminosos. Ela destacou que elementos do governo, empresários, bancos e até grandes corporações internacionais são cúmplices de diversas atividades criminosas. Além do tráfico de drogas, estas organizações criminosas estão envolvidas no tráfico de seres humanos, na degradação ambiental e em outros empreendimentos ilegais.

“Nos meus anos de investigação do cartel de Sinaloa, aprendi a não confiar apenas em relatos oficiais, incluindo relatórios judiciais e policiais, já que muitas vezes eles têm interesses pessoais. Para descobrir a verdadeira história, precisamos recorrer a duas outras fontes importantes”, disse Hernandez. Ela sublinhou a importância de falar com as vítimas e com os membros do crime organizado: “O verdadeiro trabalho de investigação começa depois de termos estas diferentes partes do quebra-cabeça”.

Radu também destacou que o profissionalismo e proporcionar aos criminosos a oportunidade de responder podem ajudar os jornalistas a estabelecer um relacionamento duradouro, mas alertou que “os jornalistas devem ser cautelosos neste esforço, porque os criminosos podem querer usar o seu canal para atacar os seus rivais”.

Guia da GIJN para Investigação do Crime Organizado no Triângulo Dourado

Leia o Guia da GIJN para Investigação do Crime Organizado no Triângulo Dourado, de Bertil Lintner. Imagem: GIJN

Lintner compartilhou suas experiências lidando com criminosos e membros de gangues no Triângulo Dourado, incluindo um encontro memorável com “Koi Dente Quebrado” – Wan Kuok-koi, um ex-líder da Tríade – em uma prisão chinesa. “Você ficaria surpreso com o quão abertos eles podem ser às vezes”, disse Lintner, acrescentando que os jornalistas devem sempre considerar a sua própria segurança, e a das suas fontes, antes de embarcarem em tais viagens.

Ao discutir as ferramentas favoritas para rastrear o crime organizado, Lintner disse que não existem muitos softwares especializados para investigar tais crimes. “Mas esse hardware é essencial”, disse ele, batendo nos joelhos. “Saia às ruas, converse com as pessoas e esteja presente no campo”, aconselhou. Interaja com ONGs, locais e indivíduos que podem não ter o poder de tomar medidas contra o crime, mas que possuem conhecimentos valiosos sobre a situação e estão dispostos a compartilhar.

Anesi, repórter sénior do IRPI, disse que embora as organizações criminosas na Itália estejam em constante evolução, a sua principal fonte de renda continua sendo o tráfico de cocaína. Ela também explicou os desafios de investigar e infiltrar-se em organizações como a ‘Ndrangheta, que atua na Calábria: “É difícil convencer alguém de que você é o sétimo filho”.

Anesi também observou o surgimento de criminosos sofisticados que falam vários idiomas e entendem de tecnologia, mudando o cenário do crime organizado. Uma tendência particularmente notável que o time de Anesi no IRPI descobriu foi a utilização, por parte de organizações criminosas, de bancos falsos – muitas vezes empresas de fachada registradas em paraísos fiscais offshore com licenças bancárias falsas – que permitem que grupos do crime organizado invistam em ferramentas financeiras, como títulos de crédito.

Anesi enfatizou a importância do trabalho investigativo tradicional, mas citou vazamentos como os Paradise e Pandora Papers como uma forma inovadora de rastrear organizações criminosas. “Estes vazamentos de informação lançaram luz sobre o fluxo de dinheiro ilícito através da Suíça e de outros lugares e para investimentos imobiliários em todo o mundo. Como o crime organizado opera a nível internacional, os jornalistas também devem trabalhar além-fronteiras”, disse ela.

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