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Novas ferramentas e dicas para investigar mudanças climáticas

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Novas ferramentas e dicas para investigar mudanças climáticas

Modelos hidrológicos – como este mostrando para onde iria a água de enchentes repentinas na histórica Ellicott City nos EUA – são uma ferramenta poderosa, mas pouco utilizada em relatórios climáticos. Imagem: captura de tela

Para muitos jornalistas de dados, a parte complicada de trabalhar com dados climáticos é que muitos deles vêm agrupados em várias dimensões de tempo e espaço. Por exemplo, cada pequeno quadrado na grade de um mapa pode conter informações diferentes sobre mudanças de temperatura ao longo do tempo.

E esses “dados climáticos em grade” geralmente aparecem exclusivamente em um formato de arquivo chamado NetCDF, que é muito diferente de planilhas e desconhecido para muitos repórteres.

Talvez seja por isso que um aplicativo de visualização de dados da NASA, chamado Panoply, foi mencionado por vários participantes da última conferência de jornalismo de dados NICAR21, quando a GIJN lhes pediu para citar a ferramenta mais útil sobre a qual ouviram falar no dia de abertura do evento.

Isso é interessante, porque cada sessão do NICAR – Instituto Nacional de Comunicação Assistida por Computador, na sigla em inglês, organizada pelo Investigative Reporters & Editors (IRE) – foi repleta de dicas úteis de dados e ferramentas digitais.

Em uma sessão virtual intitulada “Usando dados para relatar sobre mudanças climáticas”, o repórter científico do BuzzFeed News, Peter Aldhous, mostrou como arquivos de dados NetCDF em grade podem ser facilmente carregados na ferramenta gratuita Panoply e como você pode usá-los para criar mapas personalizados e gerar reportagens sobre o clima mais acessíveis.

No painel estavam também a repórter científica da NPR, Rebecca Hersher e a repórter ambiental do ProPublica, Lisa Song, que compartilharam dicas sobre fontes de dados pouco conhecidas e especializadas que podem tornar as matérias sobre o clima mais fáceis de fazer e entender.

Entre suas dicas estavam maneiras de fortalecer as reportagens sobre o aumento do nível do mar, medir a temperatura do mar costeiro, determinar modelos para inundações futuras, acompanhar danos causados por furacões e personalizar dados climáticos de todo o mundo.

Dados do Nível do Mar

Hersher explica que existem dois desafios principais ao escrever sobre a elevação do nível do mar. Primeiro, que muitos leitores não percebem que os níveis dos oceanos e as taxas de mudança são significativamente distintas para diferentes litorais ao redor do mundo e, segundo, que os repórteres muitas vezes não sabem como encontrar dados locais sobre o nível do mar.

Ela diz que uma excelente fonte de dados locais pode ser encontrada nos Conjuntos de Dados sobre Marés e Correntes da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), que oferecem dados globais sobre os níveis locais do mar.

“Esses dados são realmente fáceis de acessar”, diz Hersher. “Você pode ver facilmente, por exemplo, que o aumento do nível do mar é muito mais rápido em Annapolis, Maryland, do que em Santa Monica, Califórnia.”

Novas ferramentas e dicas para investigar mudanças climáticas

Os gráficos de dados do banco de dados sobre marés e correntes da NOAA mostram claramente que o aumento do nível do mar para a cidade de Annapolis, na costa leste dos EUA (topo), foi muito mais rápido do que a cidade de Santa Monica, na costa oeste. Imagem: captura de tela

Hersher aponta a série Rising Waters do Post and Courier da Carolina do Sul como um exemplo “incrível” de como usar os dados locais da NOAA e da cobertura das mudanças climáticas em geral. Os dados que encontraram para a cidade costeira de Charleston mostraram que o nível do mar local aumentou 3,6 centímetros de 1990 a 2000; mais 5,08 centímetros de 2.000 a 2010, e mais 6,8 centímetros de 2010 a 2020. A reportagem descobriu que as inundações na maré alta, que aconteciam cerca de quatro vezes por ano meio século atrás, agora acontecem cerca de 40 vezes por ano na cidade.

Dados ocultos sobre temperatura marítima

Hersher diz que os repórteres também acham “estranhamente difícil” encontrar bons dados sobre as temperaturas da superfície do mar próximo ao litoral. Embora o nome do conjunto de dados não sugira, o site da NOAA Coral Reef Watch (Vigilância de recifes de coral) é uma excelente – e pouco utilizada – fonte desses dados, diz ela.

“Acho que uma das razões pelas quais as pessoas não usam este recurso é porque é chamado de ‘Coral Reef Watch’, mas ele pode ser muito útil para dados que não são exatamente sobre corais”, explica Hersher. “Você pode encontrar o que eles chamam de anomalias SST diárias, que são anomalias de temperatura para a camada superior da água, e em resolução relativamente alta. A NOAA até faz seus próprios gifs com esses dados que você pode simplesmente baixar. Eu amo a escala que eles usam, que um aluno da segunda série poderia entender”.

Hersher usou esses conjuntos de dados para uma reportagem da NPR sobre os danos causados ​​pelo ano mais quente já registrado – 2020.

Simulação de inundações futuras

Para dados locais e visualizações de planejamento em casos de enchentes, Hersher diz que recentemente descobriu modelos hidrológicos, que são modelos de computador avançados, às vezes encomendados por autoridades locais para se planejar para eventos como enchentes.

“Tudo isso tem a ver com qual será o destino da água quando chove determinada quantidade”, observa. “Eles podem ser extremamente úteis. O problema é que você nunca saberá se esses modelos existem a menos que pergunte – talvez no departamento de planejamento e obras públicas, ou em uma agência de águas pluviais.

No entanto, Hersher observa que muitos funcionários estão satisfeitos em compartilhar os dados do modelo hidrológico com os repórteres simplesmente porque é bastante caro comissioná-los, e eles valorizam vê-los bem aproveitados.

A NPR usou esses modelos para uma reportagem importante sobre o planejamento em casos de inundações na histórica cidade de Ellicott, no estado americano de Maryland.

Conjuntos de dados especializados

Embora Lisa Song, da ProPublica, tenha oferecido conjuntos de dados específicos para os EUA ao público do NICAR21 – como a USGS Streamgaging Network e o Programa Nacional de Seguro contra Inundações da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA, na sigla em inglês) – suas dicas sobre como focar em fontes de dados climáticos menos conhecidas podem ser úteis para jornalistas em muitos países.

  • Procure dados de agências governamentais de ciência sobre medição de fluxo, tanto para encontrar a profundidade do rio, quanto as taxas de fluxo e use esses dois conjuntos de dados combinados para mostrar as mudanças ao longo do tempo. “Esses medidores são usados em redes extensas – coisas que eles colocam em rios que medem a altura da água e outros medidores que medem o fluxo do rio por segundo”, diz Song. “Você pode usar os dois tipos de dados para fazer análises interessantes sobre tendências de inundações e tendências históricas.” A ProPublica usou dados de medição para seu projeto de investigação colaborativa com o Reveal – intitulado Flood Thy Neighbour (Inunde seu vizinho) – que descobriu que “decisões de vida ou morte [sobre a proteção de diques] são ditadas menos por fundamentos científicos do que por fatores econômicos, políticos e pura sorte.”
  • Ao comparar os dados de medição de fluxo para tendências históricas, no entanto, tenha o cuidado  de verificar os estudos oficiais relevantes para ter certeza de estar comparando ‘maçãs com maçãs’. “Eles podem ter movido um medidor uma milha rio acima ou rio abaixo e precisavam recalibrar seus pontos zero”, observa ela. “Descobrimos que eles nem sempre se lembram de calibrar os dados corretamente.”
  • Procure conjuntos de dados especializados – especialmente de fontes acadêmicas – que podem mostrar os danos e custos da mudança climática e que de outra forma seriam difíceis de medir. Por exemplo, em uma matéria sobre os enormes custos de reabastecimento de praias danificadas por furacões, Song e seus colegas usaram um conjunto de dados especializados mantido pela Western Carolina University que conta os caminhões de areia usados pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA para reconstruir praias destruídas por tempestades cada vez mais violentas.
Novas ferramentas e dicas para investigar mudanças climáticas

Neste exemplo do workshop, a ferramenta Panoply da NASA processa anomalias de temperatura global ao longo de três décadas a partir de um arquivo de dados NetCDF. Imagem: captura de tela

  • Procure dados de seguro contra inundações ou assistência de emergência para medir padrões. Nos Estados Unidos, por exemplo, Song diz que a FEMA produz dados detalhados para seu Programa Nacional de Seguro contra Inundações, que fornece ajuda federal para famílias repetidamente atingidas por danos causados por enchentes. Embora esse vasto conjunto de dados seja difícil de acessar, Song diz que os repórteres podem solicitar partes desses dados ao grupo ambiental do Conselho de Defesa de Recursos Naturais (NRDC, na sigla em inglês), que entrou com uma ação judicial para obter o banco de dados.
  • Entre em contato com organizações que colaborem com a imprensa e que buscam ativamente ajudar repórteres, como a Climate Central – uma organização independente construída em torno de jornalistas e cientistas que estudam o clima, e oferece um programa de parceria para rádio, TV e redações digitais. “Climate Central é uma boa fonte de dados climáticos, e eles também têm todo um programa que tenta ajudar repórteres locais a acessar e visualizar todos os tipos de dados climáticos”, disse Song.
  • Procure por dados de amostragem em tempo real após desastres ambientais coletados por grupos de defesa, instituições acadêmicas e empresas privadas. Song diz que, após o furacão Harvey nos EUA em 2017, uma empresa privada movimentou seu próprio laboratório móvel de monitoramento de ar ao redor de uma refinaria de petróleo danificada pela tempestade. Ela diz que os dados que a empresa encontrou sobre o benzeno no ar eram mais claros e abrangentes do que os dados do órgão fiscalizador do governo dos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental.
  • Quando você encontrar um ótimo banco de dados de emissões de gases, vá fundo. Song aponta para uma importante reportagem de 2019 do LA Times, que mostrou que os incêndios florestais da Califórnia cancelaram todos os ganhos ambientais obtidos pelas leis de redução de emissões do estado como um grande exemplo de investigar a fundo quando você tem conjuntos de dados abrangentes sobre emissões de gases de efeito estufa.

Usando dados climáticos “em grade”

Para ilustrar a predominância dos arquivos NetCDF na ciência do clima, Peter Aldhous, do BuzzFeed, conduziu uma pesquisa em uma das maiores fontes de informações sobre ciência do clima – o Guia de Dados Climáticos do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, dos EUA. Ele descobriu que 134 do total de 214 conjuntos de dados do arquivo eram apresentados no formato NetCDF.

Ele diz que esses arquivos geralmente mostram informações e períodos de tempo para cada célula da grade do mapa, como 2 graus de latitude por 2 graus de longitude. Por exemplo, ele observa que a análise GISTEMP da NASA publica informações sobre a temperatura da superfície de centenas desses quadrados de grade mensalmente – para todo o planeta – com um arquivo que registra informações desde 1880.

“Se você está familiarizado com planilhas e bancos de dados, o NetCDF é provavelmente um formato estranho para se pensar em trabalhar devido a sua dimensão de tempo e suas duas dimensões de espaço”, diz Aldhous. “Mas existe um software que torna realmente fácil olhar para este formato, o Panoply. É multiplataforma – você precisa de Java no seu computador e mais nada. Você pode baixá-lo facilmente e começar a usá-lo”.

Novas ferramentas e dicas para investigar mudanças climáticas

Neste exemplo do workshop, a ferramenta Panoply da NASA processa anomalias de temperatura global ao longo de três décadas a partir de um arquivo de dados NetCDF. Imagem: captura de tela

Depois de abrir um arquivo NetCDF no Panoply, Aldhous sugere que você:

  • Selecione a camada ou camadas de dados de seu interesse e crie um gráfico.
  • Use o programa padrão de longitude e latitude do Panoply para criar um mapa.
  • Use os filtros fáceis de usar do Panoply para personalizar a escala e a paleta de cores do seu mapa.
  • Divirta-se escolhendo as opções que você acha que melhor ilustram seu conjunto de dados, incluindo sobrepor fronteiras de países e tipos de projeção para o mapa.
  • Nomeie seu mapa e salve-o como imagem ou animação.

“É muito fácil de usar e permite que você acesse os dados brutos sobre coisas como a temperatura da superfície do mar”, explica Aldhous.

Para repórteres com alguma experiência em programação, Aldhous recomenda o processamento de dados climáticos em grade no pacote Raster na linguagem de programação R.

“Eu faço a maior parte do meu trabalho sobre clima em R e uso o pacote Raster – é incrivelmente poderoso para trabalhar com esse tipo de dados”, diz ele. “Espero que aqueles que trabalharam com código vejam este pacote e pensem‘ isso não parece muito assustador”.

Interessado em mais informações sobre o NICAR21? A programação completa pode ser conferida aqui, e as sessões gravadas podem ser acessadas e visualizadas até março de 2022 por meio deste link

Leitura Adicional

Crise climática: Ideias para jornalistas investigativos

Investigando incêndios florestais em meio a falta de dados na Venezuela 

Mudança Climática: Investigando a História do Século


Rowan Philp é repórter da GIJN. Rowan foi repórter-chefe do Sunday Times na África do Sul. Como correspondente estrangeiro, ele relatou sobre política, corrupção e conflitos em mais de duas dezenas de países ao redor do mundo.

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