Vencedores do prêmio Javier Valdez, na COLPIN 2023. Imagem: Andrea Arzaba
COLPIN 2023: Os principais repórteres investigativos da América Latina apresentam seu trabalho na Cidade do México
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Na Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo (COLPIN) de 2023, repórteres de diversas origens se reuniram e compartilharam ferramentas, técnicas, tecnologias e dicas privilegiadas das melhores investigações publicadas no ano passado.
Organizado pelo Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS, na sigla em espanhol) em colaboração com o Instituto Nacional de Transparência do México, Acesso à Informação e Proteção de Dados Pessoais (INAI), Artigo 19, e a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), o evento deste ano atraiu 450 jornalistas de mais de 25 países. Decorrendo de 6 a 9 de dezembro, a conferência foi uma mistura de diversas perspectivas, metodologias e narrativas.
Carmen Aristegui, uma das principais jornalistas investigativas da América Latina, fez o discurso principal de 2023. Algumas das questões que ela abordou foram a censura, a investigação da elite e a condução de investigações em ambientes difíceis.
Um dos destaques da conferência foi o anúncio do Prêmio Javier Valdez Latino-Americano de Jornalismo Investigativo. Valdez, um jornalista mexicano conhecido pelas suas investigações sobre o crime organizado no estado de Sinaloa, foi assassinado em 2017. Durante a cerimônia de entrega do prêmio, sua esposa falou para jornalistas de toda a região, encorajando-os a não deixar ninguém silenciar o seu trabalho.
O júri desses prêmios incluiu alguns dos principais nomes do jornalismo investigativo nas Américas, entre eles o colombiano Ignacio Gómez, a mexicana Alejandra Xanic, o brasileiro Marcelo Moreira, o argentino Santiago O’Donnell e Lise Olsen dos EUA, que juntos selecionaram os projetos vencedores entre 288 candidaturas.
Vencedores do Prêmio Colpin 2023
Três investigações foram escolhidas para o Prêmio Javier Valdez deste ano – ficando em primeiro, segundo e terceiro lugar.
Primeiro Lugar: Homicídios em Ayacucho e Juliaca — IDL Reporteros (Peru)
No final de 2022, quando uma crise política atingiu o Peru, milhares de pessoas saíram às ruas para marchar. Mas alguns dos protestos tornaram-se violentos devido a alegações de uso excessivo da força pelas forças de segurança. Esta investigação do IDL-Reporteros foi uma reportagem abrangente, investigando seis das 10 mortes ocorridas em 15 de dezembro de 2022, na cidade de Ayacucho, no sul do país. Para esta videoreportagem, o veículo identificou as cenas, locais e momentos precisos em que os tiros fatais foram disparados durante as sete horas em que os protestos se tornaram mortais.
“Como mencionou nossa colega Marcela Turati durante a COLPIN, o jornalismo investigativo é como uma comissão da verdade acontecendo em tempo real… e é isso que queremos fazer com o nosso trabalho”, disse Rosa Laura do IDL-Reporteros ao receber o prêmio. Seu colega César Prado continuou: “O caos institucional que vivemos [no Peru] nos coloca em risco de mancharmos novamente a nossa história, não permitamos isso. O jornalismo independente é essencial em todos os momentos”.
Segundo Lugar: Prisões Venezuelanas — Runrun.es e Connectas (Venezuela)
Esta investigação analisou sete prisões venezuelanas governadas por pranes (líderes de gangues), nas quais os presos vivem com muito conforto e desfrutam de discotecas, piscinas e academias. Estas prisões também servem como sedes de fato para gangues, a partir das quais são dirigidas empresas criminosas, como o tráfico de drogas, a mineração ilegal e o tráfico de seres humanos.
Os jurados afirmaram que a investigação “mostra o empenho dos repórteres em descobrir uma organização criminosa, com sérios riscos para a sua própria integridade”. Como disse a repórter Ronna Risquez: “Os jornalistas venezuelanos trabalham em condições bastante complexas e, no entanto, continuamos a acreditar na democracia, no jornalismo e em descobrir a verdade com coragem”.
Third Place: Yanomami Genocide — Sumaúma (Brazil)
Nesta investigação, o site de notícias Sumaúma descobriu que 570 crianças da etnia Yanomami no Brasil com cinco anos ou menos morreram de causas evitáveis. A reportagem expôs um aumento de 30% nessas mortes quando o ex-presidente Jair Bolsonaro estava no poder.
Entre as suas descobertas, os jornalistas revelaram crianças indígenas que sofrem de desnutrição aguda, pela falta de infraestruturas de saúde e inúmeras doenças. Embora a mineração ilícita dentro do território Yanomami já fosse conhecida, foi somente após esta investigação que o público pôde relacionar essa mineração ilegal ao seu impacto devastador na saúde das crianças da comunidade.
Os jurados afirmaram sobre o projeto: “Pela primeira vez, as mulheres Yanomami falaram do sofrimento causado pela mineração e revelaram casos de estupro coletivo, incitando meninas a terem relações sexuais em troca de comida”. A repórter da Sumaúma, Talita Benidelli, acrescentou ao receber o prêmio: “É difícil ganhar um prêmio pela cobertura de uma violação dos direitos humanos, já que como jornalista se recebe o prêmio, mas sabemos que a população que retratamos continua a sofrer. É por isso que dedico este prêmio a todos os membros das populações tradicionais Yanomami”.
Outros finalistas do Prêmio Javier Valdez 2023
Rosario, feudo narco – La Nación (Argentina)
As joias de Bolsonaro – O Estado de São Paulo (Brasil)
Nome aos bois – Repórter Brasil (Brasil)
Farra ilimitada – Revista Piauí (Brasil)
Contratos de Sangue na Previdência Social – El Universo (Equador)
O Poderoso Chefão – La Posta Equador (Equador)
Os segredos do PRI em Andorra – El País (Espanha)
Seguindo o dinheiro – Border Hub/Texas Observer (Estados Unidos)
A montanha sagrada de um traficante de drogas – Contracorriente (Honduras)
A fortuna do presidente do Supremo Tribunal Federal – ABC Color (Paraguai)
Primo hoteleiro de Quirino Ordaz – El Universal (México)
A Ministra Yasmín Esquivel plagiou sua tese de doutorado – El País (México)
Andrea Arzaba é a editora de espanhol da GIJN. Como jornalista e profissional de mídia, Andrea dedicou sua vida a documentar as histórias de pessoas na América Latina e comunidades Latinas nos Estados Unidos. Seu trabalho se concentra em questões relacionadas à liberdade de expressão, mudança climática, migração e liderança feminina.