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Conheça as reportagens investigativas premiadas na COLPIN 2022

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Colpin ganhadores prêmio

As equipes premiadas durante a COLPIN. Imagem: Cortesia IPYS

Acusações de assédio sexual contra o chefe de um banco estatal, o crescimento transnacional da gangue salvadorenha MS13 e o impressionante acúmulo de riqueza do presidente e sua família em um dos países mais pobres da América Central. Esses foram alguns dos temas investigativos entre as reportagens premiadas da Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo de 2022 (COLPIN, por sua sigla em espanhol).

Este ano, a conferência — o mais importante encontro de jornalismo investigativo da região — aconteceu no Rio de Janeiro, de 9 a 12 de novembro, com 89 palestrantes e 220 participantes de 21 países. A conferência é organizada pelo Instituto Prensa y Sociedad (IPYS), uma organização com sede em Lima que é uma das principais ONGs de mídia da América Latina.

Os participantes da conferência puderam assistir a painéis e workshops, conhecer detalhes sobre investigações notáveis da região e aprender sobre os desafios de reportar em ambientes que são repressivos com a imprensa e do exílio. Os participantes também puderam mergulhar em projetos de jornalismo local, incluindo um sobre como os repórteres investigativos trabalham nas favelas do Rio.

Um dos destaques da conferência é o Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo Javier Valdez. Valdez, um jornalista mexicano conhecido por suas investigações sobre o crime organizado no estado de Sinaloa, foi assassinado em 2017.

O júri do prêmio foi composto por alguns dos principais nomes do jornalismo investigativo e de dados nas Américas, incluindo o mexicano Daniel Lizárraga, a costarriquenha Giannina Segnini, o brasileiro Fernando Rodrigues, o argentino Santiago O’Donnell e a norte-americana Lise Olsen, que juntos selecionaram os projetos vencedores entre mais de 200 inscrições. Na conferência, o Lincoln Institute of Land Policy também concedeu prêmios para três investigações relacionadas à política urbana, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas.

Os jurados apontaram a importância da reportagem investigativa para a democracia na região e para responsabilizar os que estão no poder, enquanto outros repórteres destacaram a importância de continuar trabalhando apesar das ameaças feitas por aqueles que estão no poder. “É importante que digamos para nossas autoridades que o jornalismo vai continuar existindo apesar dos ataques”, disse o jornalista brasileiro Rodrigo Rangel. “Nós responderemos aos ataques com mais jornalismo”.

Vencedores do prêmio

Três investigações foram escolhidas para o prêmio Javier Valdez deste ano – ficando em primeiro, segundo e terceiro lugar.

1. Um escândalo de assédio sexual no coração do governo de Jair Bolsonaro; Rodrigo Rangel, Fabio Leite e Jeniffer Gularte — Metrópoles, Brasil
primeiro lugar COLPIN 2022

Imagem: Captura de tela da investigação do Metrópoles

No final de 2021, um grupo de funcionários da Caixa Econômica Federal, um dos maiores bancos estatais da América Latina, acusou o então presidente do banco, Pedro Guimarães, de assédio sexual.

A história, que conquistou o primeiro lugar no prêmio Javier Valdez, foi contada por jornalistas do Metropóles, site brasileiro de notícias fundado em 2015 e com sede em Brasília. Os repórteres conseguiram localizar cinco funcionárias que trabalhavam em equipes próximas de Guimarães. Enquanto as supostas vítimas permaneceram anônimas na história, a equipe do Metrópoles coletou e cruzou informações sobre viagens oficiais e outros elementos, como mensagens de celular, para corroborar as alegações.

Na época em que as reivindicações se tornaram públicas, o presidente brasileiro cessante, Jair Bolsonaro – que tem uma relação próxima com o banqueiro -, disse não ver nada contundente nos depoimentos. “Felizmente, os repórteres acharam que tinha”, disse o jurado Fernando Rodrigues, que dirige o portal de notícias brasileiro Poder360. “A democracia ganha muito quando cidadãos e eleitores conhecem seus governantes”.

No dia seguinte à publicação da reportagem, Guimarães pediu demissão. (Em sua carta de demissão, ele disse que as acusações “não eram verdadeiras e não refletiam  minha postura profissional e nem pessoal”.) Cinco vice-presidentes do banco também deixaram o banco nas semanas seguintes. “É nosso papel lançar luz sobre esses abusos”, disse Rangel ao receber o prêmio. “Abusos que, neste caso, aconteceram na mais alta escala do poder brasileiro”.

2. MS13 & Co.; Juan José Martínez — Insight Crime, El Salvador

A investigação que ficou em segundo lugar analisou como a gangue salvadorenha MS13 evoluiu de um começo modesto para se tornar uma potência do crime transnacional com investimentos comerciais pelos países do Triângulo Norte de El Salvador, Guatemala e Honduras, bem como no México.

segundo lugar COLPIN 2022

Imagem: Captura de tela

O jornalista e antropólogo Juan José Martínez passou vários anos investigando o grupo para entender as diferentes maneiras pelas quais a gangue ganhou força internacionalmente. O projeto traz entrevistas com líderes influentes do MS13, com o objetivo de entender melhor como e por que a organização se tornou – como diz a investigação – “um monstro de mil cabeças”.

“Gostaria de dedicar este prêmio às minhas fontes, que arriscaram suas vidas só de falar comigo”, disse Martínez ao receber o prêmio. Ele também destacou a importância dos jornalistas em uma região que enfrenta uma série de desafios democráticos. “Os jornalistas são o último obstáculo que os ditadores não conseguiram esmagar”.

O membro do júri Daniel Lizarraga, ex-editor do El Faro que foi recentemente expulso de El Salvador, disse que a história era “esplêndida, lindamente escrita e com uma investigação impressionante por trás”.

3. A Riqueza da Família Ortega Murillo; Octavio Enríquez — Confidencial, Nicaragua
terceiro lugar COLPIN 2022

Gráfico por Confidencial. Imagem: captura de tela

A Nicarágua é um país que sofre uma hemorragia de jornalistas. Toda a redação de um dos jornais mais antigos da Nicarágua – La Prensa – agora trabalha do exílio, depois que seus escritórios foram tomados pelo governo e três de seus diretores presos. Acredita-se que pelo menos 100 repórteres tenham deixado o país, mas muitos continuam a fazer reportagens do exterior.

“Quatro camisas e duas calças. Foi tudo o que coloquei na mala quando decidi deixar a Nicarágua ”, escreveu o jornalista investigativo Octavio Enríquez em 2021 sobre a fuga para o exílio. O repórter – cuja investigação recebeu o terceiro lugar no prêmio Javier Valdez – disse ao público no Rio que depois de trabalhar nesta reportagem suas escolhas eram fugir ou ser preso.

A investigação de Enríquez retrata as extensas redes de negócios ligadas à família presidencial. Ele usou documentos do Registro Público e informações do Instituto Nicaraguense de Previdência Social (INSS) para analisar o alcance das conexões familiares, as principais empresas que controlam e seus interesses em negócios tão diversos quanto telecomunicações e petróleo.

“Neste caso, eles estão investigando o [presidente] Daniel Ortega e [sua esposa Rosario] Murillo na Nicarágua. Agora mesmo. Com essas informações, sabia que esta peça era muito importante para o jornalismo em nossa região hoje”, disse Santiago O’Donnell, jornalista argentino e membro do júri.

“Recebo este prêmio da COLPIN em nome de uma redação confiscada que acredita no jornalismo livre”, disse Enríquez durante a cerimônia e em sua conta pessoal no Facebook. “Gostaria de agradecer à equipe do Confidencial e às fontes que nos ajudaram. São eles que nos guiam para mergulhar no escuro. Não consigo encontrar uma maneira melhor de definir o jornalismo investigativo em uma ditadura. Espero que mais e mais pessoas de dentro nos ajudem a continuar a reportar sobre a Nicarágua”.

COLPIN 2022

Finalistas

Outras reportagens investigativas que fizeram parte da lista de finalistas do prêmio Javier Valdez vieram de toda a América Latina e Caribe e mostram que o jornalismo investigativo está vivo e bem na região. Elas incluem:

Argentina

Por dentro do “Primeiro Comando da Capital”, um grupo de narcotráfico brasileiro na Argentina
Germán de los Santos — La Nación

Brasil

O Caso Prevent Senior
Guilherme Balza — TV Globo

A máquina oculta de propaganda do iFood
Clarissa Levy, Thiago Domenici, Marina Dias — Agência Pública

Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico
Alexandre Hisayasu, Valéria Oliveira — Fantástico (Rede Globo)

Colômbia

A fortuna escondida de um príncipe belga em Cartagena
Charlotte de Beauvoir, Lorenzo Morales, Sophia Gómez — Cerosetenta

Cuba

Investigando alegações de abuso sexual do músico cubano Fernando Bécquer
Mario Luis Reyes — El Estornudo

Haiti

Sequestro no Haiti: Presos no medo
Milo Milfort — Connectas

México

Traficantes de DNA
Paula Mónaco Felipe, Wendy Selene Pérez, Luis Brito, Miguel Tovar — Pie de Pagina

O pedido de ajuda do Hospital IMSS em Tula foi ignorado
Zedryk Raziel — Animal Político

Panamá

Pearl Island, uma ilha VIP com tratamento preferencial
Sol Lauria — Revista Concolon

Porto Rico

Paraíso perdido
Omaya Sosa Pascual, Kayla Young, Víctor Rodríguez Velázquez, Freeman Roger, Gabriela Carrasquillo — Centro de Periodismo Investigativo

Venezuela

Série Corredor Furtivo
Joseph Poliszuk, María de los Ángeles Ramírez, María Antonieta Segovia y Minerva Vitti — Armando.info and El País

Vencedores do prêmio Lincoln Institute of Land Policy

Tulum, um paraíso ilegal
Alejandro Melgoza Rocha — N+, México

O que você precisa saber sobre o Plano de Gestão Territorial de Bogotá
Mónica Rivera Rueda — El Espectador, Colômbia

A Cidade Habitável: Redensificação ou Destruição da Habitação?
Andrés de la Peña — Zona Docs, México

Recursos adicionais

COLPIN mostra o melhor do jornalismo investigativo da América Latina

Forçados a sair: repórteres investigativos da América Latina obrigados a ir para o exílio

Como foi feito: as histórias não contadas de migrantes da América Latina


Ana Beatriz Assam é editora de língua portuguesa da GIJN e jornalista freelancer. Trabalhou no jornal O Estado de São Paulo como freelancer cobrindo diversos assuntos, principalmente com jornalismo de dados na editoria de Política. Também trabalhou na Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) como moderadora de cursos de jornalismo.

Andrea ArzabaAndrea Arzaba é a editora de espanhol da GIJN. Como jornalista e profissional de mídia, Andrea dedicou sua vida a documentar as histórias de pessoas na América Latina e comunidades Latinas nos Estados Unidos. Seu trabalho se concentra em questões relacionadas à liberdade de expressão, mudança climática, migração e liderança feminina.

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