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Sue-Lin Wong, correspondente da The Economist para a Ásia e apresentadora de dois podcasts narrativos recentes. Imagem: Vivian Yap Wei Wen para GIJN

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Transição para podcasts? Como jornalistas da mídia impressa podem se tornar contadores de histórias em áudio

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O que impressionou o público que ouviu “The Prince” (O Príncipe), a série de oito episódios da The Economist sobre o presidente chinês Xi Jinping, não foi a riqueza dos trechos históricos que ilustravam sua ascensão de um político humilde à “pessoa mais poderosa do mundo”, nem os sons habilmente masterizados e a narração cativante do apresentador.

O momento que as pessoas sempre lembram é um trecho de Sue-Lin Wong, correspondente da The Economist na Ásia, com um microfone na mão, na cozinha da casa de sua mãe em Sydney, longe de seu posto de trabalho em Hong Kong, tendo uma conversa franca sobre a vida na China comunista.

Segundo Wong, aquele momento entre mãe e filha tornou-se a cena mais mencionada pelos ouvintes quando conversavam com ela sobre a série. E isso, ela disse a uma sala lotada de contadores de histórias em áudio e entusiastas, é exatamente a essência do podcast narrativo.

Na sessão “Como Criar um Podcast Investigativo” da Conferência Global de Jornalismo Investigativo de 2025, três renomados contadores de histórias em áudio mostraram como jornalistas podem formatar seu trabalho investigativo para os ouvidos. A sessão, moderada por Tessa Pang, editora de impacto da Lighthouse Reports, apresentou uma série de dicas para jornalistas da mídia impressa que estão migrando para a narração de histórias em áudio e para aqueles que ainda não produziram seu primeiro podcast.

Dados e fatos são importantes, mas a emoção é o que dá vida à narrativa em áudio

Wong, que tem experiência em mídia impressa, disse que escrever um podcast exige um conjunto diferente de habilidades e considerações em comparação com escrever para o impresso. A sala irrompeu em “hmmms” de concordância e acenos de cabeça quando ela disse: “O poder da pausa não é algo com que precisamos nos preocupar na mídia impressa, mas é algo extremamente poderoso em podcasts”.

Podcast da The Economist. Imagem: Captura de tela

Enquanto os repórteres da mídia impressa instintivamente priorizam descobertas, dados e análises, a narrativa em áudio exige emoção, afirmou Susanne Reber, editora investigativa veterana e fundadora da Piz Gloria Productions, especializada em narrativa de histórias seriadas. Ela ilustrou isso com um trecho de um cientista explicando como limpar pássaros encharcados de óleo com detergente durante uma entrevista com Ira Glass, apresentador do programa “This American Life”. O charme inesperado e a surpresa do entrevistador, capturados na gravação, segundo ela, são o tipo de “ouro puro do rádio” que torna a narrativa em áudio uma experiência enriquecedora para os ouvintes.

Ela enfatizou que fatos, dados e análises também são importantes em podcasts investigativos, mas os ouvintes querem mais. Isso, disse ela, acontece porque o público se conecta primeiro com os sentimentos, não com os fatos.

Para fazer isso direito, a regra de ouro de Reber para iniciantes é gravar tudo, de uma forma que demonstre intimidade — que possa atrair os ouvintes e colocá-los na mesma sala que o repórter.

“Se você quer capturar essa intimidade”, disse ela, “então você precisa ser capaz de ouvir a voz da pessoa, o que significa que você precisa ouvi-la fazer uma pausa. Você precisa ouvi-la pensar, precisa ouvir quando ela estala os lábios. O momento é fundamental… deixar os momentos respirarem”.

Use vozes para criar uma experiência para os ouvintes

Quando a PumaPodcast, uma plataforma de narrativa em áudio sediada nas Filipinas, produziu uma série documental em áudio de seis partes sobre a guerra às drogas do ex-presidente Rodrigo Duterte, seu fundador, Roby Alampay, previu que o que tornaria a série impactante seria a engenharia de som.

Roby Alampay do PumaPodcasts. Foto: Vivian Yap Wei Wen para GIJN

Mais tarde, porém, ele percebeu que o que fez a série repercutir no público foi a reunião de vozes das vítimas e de seus familiares, e como essas histórias individuais impactaram os ouvintes. Ele disse que um dos momentos mais impactantes da série foi quando uma mãe perguntou: “Quando meu sobrinho decide mudar, então você decide matá-lo?”

Ele afirma que é vital para os contadores de histórias em áudio encontrarem as vozes certas — e usá-las com habilidade para contar a história. Da mesma forma, para uma série que produziram sobre a pandemia do coronavírus, ele disse que foram as vozes das pessoas narrando suas experiências pessoais com a COVID-19 — o formato que escolheram — que criaram uma experiência enriquecedora para o público.

“Qualquer um pode tirar uma foto de uma aldeia em chamas ou de uma aldeia devastada por um tsunami, qualquer um pode passar de carro e tirar uma foto”, disse ele. “É preciso um jornalista para sair do carro, descer até lá, caminhar pelos escombros e não apenas tirar uma foto de uma mão debaixo dos escombros, mas também conversar com as pessoas”.

Encontre o arco narrativo

É claro que, uma vez que se tenha a gravação, a capacidade de editar com maestria as diferentes vozes captadas ao longo do processo de reportagem e uma produção meticulosa também são importantes, disseram os palestrantes.

Os três palestrantes concordaram que, embora o sucesso dos podcasts narrativos dependa de emoções e momentos capazes de criar uma experiência sensorial, é necessário haver estrutura. Toda história precisa de um começo, meio e fim para que o ouvinte acompanhe o desenrolar da narrativa, afirmaram.

“Se você conseguir levá-los até o segundo episódio, já está no caminho certo”, disse Reber.

Ela aconselhou os jornalistas a pensarem em cenas e arcos narrativos, como fazem os roteiristas: Quem são os protagonistas? Qual é o ponto de virada? Onde estão os momentos de surpresa? A clareza narrativa é fundamental nos minutos iniciais, disse ela.

Wong também corroborou essa ideia, descrevendo sua obsessão pelo processo. Para sua segunda série, “Scam Inc,”, uma investigação em áudio sobre a economia global e clandestina de golpes, ela abandonou longos documentos do Word e, em vez disso, usou um software com links internos para rastrear personagens, linhas narrativas e temas que lhe permitiram identificar padrões em seu processo de reportagem.

O arco, disse ela, “surgiu organicamente de baixo para cima” ao longo do processo.

O que fazer e o que não fazer em podcasts investigativos

O que fazer
O que não fazer
Encontre a história, não o tema — Um tema geral não basta. Uma história precisa de personagens, tensão, cenas e riscos. Os produtores de Wong garantiram que ela entendesse a diferença.
Não confie na estrutura do estilo impresso - parágrafos densos com análises irão arruinar a narrativa em áudio. Wong teve que aprender a inverter a estrutura e afirma que um único exemplo forte é melhor em áudio do que múltiplas ilustrações.
Faça perguntas simples, abertas e básicas. Não se trata de quanta pesquisa você fez. Reber disse que apresentar essa informação aos ouvintes da maneira mais concisa possível é o caminho a seguir.
Não comece com contexto ou cronologia. Captar a atenção do ouvinte no primeiro minuto com um momento, uma voz, uma cena ou uma surpresa é a maneira de fazer isso, de acordo com Reber.
Misture vozes originais, tradução cuidadosa, narração e locução quando necessário, mas proteja primeiro as fontes vulneráveis, disseram os palestrantes.
Não tenha medo da sua própria voz. Não importa se você não gosta de como soa, disse Reber. A autenticidade é o que conecta os ouvintes.
Considere trilhas sonoras originais sempre que possível, essa é a preferência de Reber e sua razão: composições originais ou músicas ligadas à história podem aprofundar o impacto emocional. Além disso, faixas de biblioteca são usadas em excesso, então ela diz que é melhor evitá-las, se possível.
Não assuma que uma boa edição de som possa compensar uma reportagem fraca, aconselha Alampay.
Use ferramentas e fluxos de trabalho organizacionais. Wong recomenda softwares com backlinks (como o Obsidian) para acompanhar personagens, cenários e temas em histórias complexas com vários episódios.
Não subestime a IA, mas também não entregue a narrativa a ela. As ferramentas de transcrição e busca por IA podem agilizar os fluxos de trabalho, mas a voz e o julgamento humano permanecem insubstituíveis, observaram Reber e Alampay.

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