

Investigando minas de ouro clandestinas, desmatamento e má conduta corporativa: o repórter que fez da Amazônia sua área de atuação
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Um dos principais jornalistas investigativos ambientais do Brasil é Hyury Potter, um repórter freelancer que recentemente ganhou o Prêmio Breakthrough Journalism do Pulitzer Center.
O prêmio reconheceu aqueles que se dedicam ao jornalismo investigativo e reportagens aprofundadas sobre “temas frequentemente esquecidos em regiões frequentemente negligenciadas pela grande mídia”.
Nascido e criado na Amazônia, Potter passou sua carreira cobrindo desmatamento ilegal, mineração, má conduta corporativa em terras indígenas e violações de direitos humanos. Graduado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), ele trabalhou na redação da Deutsche Welle na cidade alemã de Bonn, em jornais nos estados brasileiros de Santa Catarina e Pará, e teve trabalhos publicados pela Repórter Brasil, BBC Brasil, NBC News, The Intercept, InfoAmazonia e Mongabay.
Entre seus projetos de maior impacto está o Amazônia Minada, um mapa em tempo real que rastreia continuamente solicitações de mineração ilegal em terras indígenas e zonas de conservação, lançando luz sobre ameaças ambientais na região.
Nesta sessão de perguntas e respostas, parte da série da GIJN de entrevistas com importantes jornalistas investigativos, Potter compartilha suas experiências de reportagem na Amazônia, junto com lições e conselhos que ele reuniu ao longo de sua carreira.
GIJN: De todas as investigações em que você trabalhou, qual foi a sua favorita e por quê?
Hyury Potter: É uma pergunta muito cruel, é difícil escolher uma. Pensando nas histórias mais recentes, gosto do projeto Amazônia Minada, um mapa que fiz com a InfoAmazonia que detecta em tempo real operações de mineração que afetam terras indígenas e áreas de conservação na Amazônia. Também gosto da pesquisa que fiz durante meu primeiro ano como bolsista na Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center. Em colaboração com a ONG Earth Genome, encontramos 1.269 pistas de pouso clandestinas na Amazônia brasileira, quase 400 delas diretamente relacionadas a minas de ouro.
GIJN: Quais são os maiores desafios em termos de reportagem investigativa na região em que você trabalha?
HP: Talvez o principal desafio ainda seja obter recursos para viagens de campo seguras. Viajar na Amazônia é muito caro e, às vezes, leva dias só para chegar ao local onde você conduzirá as entrevistas.
GIJN: Qual foi o maior obstáculo ou desafio que você enfrentou em seu tempo como jornalista investigativo?
HP: Quando investiguei pistas de pouso de mineração de ouro clandestinas na Amazônia, em pelo menos duas ocasiões tive que falar com homens armados durante as entrevistas. Estávamos em áreas remotas, sem nenhuma proteção do Estado, então isso é algo muito perigoso. Uma coisa a ter em mente é que quando falamos de jornalismo investigativo na Amazônia, o principal é sempre pensar primeiro na segurança da equipe e das pessoas que vamos entrevistar.
GIJN: Qual são seus melhores truques ou dicas para entrevistas?
HP: Às vezes, a melhor coisa a fazer é não interromper o entrevistado. Nessas situações, as pessoas geralmente falam mais do que deveriam.
GIJN: Quais são as ferramentas de reportagem, bancos de dados ou aplicativos favoritos que você usa em suas investigações?
HP: Eu uso muito o QGIS para analisar dados georreferenciados com imagens de satélite, e isso pode ser muito útil em investigações jornalísticas. Por exemplo, suponha que você tenha informações como a localização de pontos críticos de desmatamento e também de terras e seus proprietários; você pode combinar os dados e identificar os proprietários das fazendas que impulsionam o desmatamento na Amazônia. Em uma das minhas investigações, usei-o para encontrar os possíveis proprietários de pistas de pouso ilegais conectadas a minas de ouro ilegais na Amazônia.
GIJN: Qual é o melhor conselho que você recebeu em sua carreira e que conselho você daria a um aspirante a jornalista investigativo?
HP: O jornalismo investigativo nunca é trabalho de apenas uma pessoa, então sempre tente trabalhar junto com outros colegas e colaborar com outros veículos de comunicação. Isso certamente melhorará sua investigação.

Investigação de Hyury Potter de 2022 para o Intercept Brasil encontrou 362 pistas de pouso clandestinas perto de áreas devastadas pela mineração. Imagem: Captura de tela
GIJN: Quem é um jornalista que você admira e por quê?
HP: Admiro muitos colegas. Um deles é o jornalista Lúcio Flávio Pinto. Ele é da minha cidade natal, Belém. Ele ganhou vários prêmios internacionais denunciando as irregularidades de gigantes companhias mineradoras na Amazônia e foi perseguido durante anos por pessoas com grande poder econômico, mas mesmo assim continuou seu trabalho. No final da década de 1980, ele até criou seu próprio jornal para continuar publicando suas reportagens.
GIJN: Qual foi o maior erro que você cometeu e que lições você aprendeu?
HP: Uma das primeiras entrevistas que fiz, para uma tarefa da faculdade sobre a história da imprensa na minha cidade, entrevistei Pinto. Por algum motivo, não gravei essa conversa e me arrependo até hoje. Então, sempre tomei cuidado para gravar grandes entrevistas desde então.
GIJN: Como você evita o esgotamento em sua área de trabalho?
HP: Eu tento não fazer [muitas] viagens a campo seguidas, é importante descansar um pouco. Quando estou em casa, corro ou vou à academia pelo menos quatro vezes por semana, é uma boa coisa a fazer para evitar pensar no trabalho. Às vezes, prefiro perseguir histórias com uma mensagem positiva. Já lidei muito com histórias que denunciam coisas ruins, então é bom ver que algumas ações dão um pouco de esperança.
Por exemplo, em novembro de 2024, passei alguns dias com o Povo Indígena Parakanã, que está recuperando seu território depois que o governo expulsou os fazendeiros invasores. Foi incrível ser espectador do momento histórico de um povo indígena recuperando seu território. Isso foi algo que fiquei muito feliz em testemunhar.
GIJN: O que você acha frustrante no jornalismo investigativo ou espera que mude no futuro?
HP: Muitas vezes, mesmo se publicarmos uma história mostrando algo errado — com várias evidências — não obtemos o impacto esperado. O jornalismo sozinho não pode mudar nada, ele precisa do apoio da sociedade para que isso aconteça.
Andrea Arzaba é editora de Espanhol da GIJN e diretora do projeto Ameaças Digitais. Tem mestrado em Estudos Latino-Americanos pela Georgetown University em Washington D.C. e bacharelado pela Universidad Iberoamericana na Cidade do México. Seu trabalho apareceu na Palabra, Proceso Magazine, Animal Politico e 100 Reporters, entre outros veículos de comunicação.